terça-feira, 15 de junho de 2010

O avanço do mosquito

Saúde prevê dengue em 20 cidades

Apesar da expansão da doença no Noroeste, secretário Osmar Terra acredita que epidemia entrará logo em declínio

Dos 54 municípios gaúchos com focos do mosquito transmissor da dengue, 20 devem ter casos da doença nas próximas semanas. A previsão é do secretário estadual de saúde, Osmar Terra. Até o momento, há casos confirmados, contraídos dentro do Estado, em três municípios: Ijuí, Santa Rosa e Santo Ângelo. A secretaria avalia que a onda de dengue deverá superar a verificada três anos atrás, quando um total de 1,3 mil casos suspeitos forma notificados. Do universo de pacientes com sintomas, 268 foram contaminados em solo gaúcho e tiveram a doença confirmada em laboratório.
- Essa epidemia deve ser maior que a de 2007, atingindo alguns milhares de pessoas. Graças a essa articulação entre Estado e municípios, com apoio do Ministério da Saúde, vamos controlar com relativa rapidez. Em três semanas a epidemia deve entrar em declínio – prevê Osmar Terra.
Em Ijuí, principal foco da dengue no Estado, um boletim epidemiológico divulgado na tarde de ontem pela prefeitura informou que já chegavam a 715 os casos suspeitos na cidade. Isso significa que 111 novas notificações forma feitas no intervalo de apenas um dia. Santa Rosa confirmou os primeiros três casos na segunda-feira, todos contraídos no município, e contabiliza ainda outros 18 casos suspeitos. Em Santo Ângelo, há dois caos confirmados: uma mulher que teria adoecido em Ijuí e um homem que viajou para fora do Estado.
Segundo o diretor do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), Francisco Paz, por enquanto o vírus ainda se encontra em circulação apenas em Ijuí e Santa Rosa. Ambas são duas das quatro maiores cidades da região e, segundo Paz, é normal que a dengue se manifeste primeiro em grandes aglomerados populacionais. Ele explica que a epidemia em Giruá, em 2007, foi uma exceção.
O diretor do CEVS sustenta ainda que os seis casos suspeitos de dengue hemorrágica contabilizados em Ijuí até ontem não alteram o perfil da epidemia no Estado.
- A dengue se manifesta de formas diferenciadas, não existem dois tipos de doenças. Em um grande número de casos de dengue clássica, sempre são esperados casos de dengue hemorrágica, que é o tipo mais grave da doença – explica Paz.

Donos de terrenos baldios serão obrigados a limpá-los

A preocupação com o alastramento da doença faz com que os municípios reforcem o trabalho de extermínio do mosquito. Em Três de Maio e Santa Rosa, por exemplo, as casas e locais de trabalho dos pacientes com suspeita de dengue estão sendo pulverizadas. Santa Rosa conta, desde segunda-feira, com duas caminhonetes enviadas pelo governo do Estado equipadas com fumacê. No município, a Secretaria de Obras, Meio Ambiente e o Exército realizam um mutirão de limpeza. Donos de terrenos baldios estão sendo informados de que devem providenciar a limpeza.
Cerca de 15 soldados do Exército saiu às ruas de Ijuí, na tarde de ontem, para o combate à dengue. As atividades se concentraram na área central da cidade e no bairro Assis Brasil. Os militares visitaram casas e estabelecimentos comerciais a fim de verificar possíveis focos do mosquito da dengue.
A Câmara de Vereadores de Ijuí aprovou ainda a contratação de 50 profissionais, de forma emergencial, para trabalhar no combate à dengue e no tratamento dos casos suspeitos por um período de 90 dias.

Leila Endruweit e Maicon Bock

Comparativo das ondas da doença

Compare os caos de dengue com os de 2007 e veja os municípios com contágios confirmados em laboratório.

Em 2007
- Confirmados: 268
- Notificados: 1384

- Horizontina: 1
- Três de Maio: 12
- Tupandi: 2
- Santa Rosa: 2
- Senador Salgado Filho: 1
- Santo Antônio das Missões: 2
- Giruá: 215
- Ijuí: 1
- Erechim: 32

Em 2010
- Confirmados: 37
- Notificados: 804

- Ijuí: 33
- Santa Rosa: 3
- Santo Ângelo: 1

GUIA DE PREVENÇÃO

Como posso identificar o mosquito da dengue?
O Aedes aegypti mede menos de um centímetro, tem aparência inofensiva, cor cefé ou preta e listar brancas no corpo e nas patas. Costuma picar nas primeiras horas do dia e nas ultimas da tarde, evitando o sol forte. Nas horas quentes, pode atacar à sombra. Há suspeitas de ataques à noite. O individuo não percebe a picada, pois não dói nem coça. A transmissão da doença raramente ocorre em temperatura abaixo dos 16º C, sendo que a mais propicia gira em torno de 30º C a 32º C.

O que é a dengue?
Causada por vírus, a dengue é uma doença febril aguda de evolução benigna, na maioria dos casos, e seu principal vetor é o mosquito Aedes aegypti, que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. O vírus tem quatro sorotipos. A infecção por um deles da proteção permanente para o mesmo sorotipo e imunidade parcial e temporária contra os outros três.

Quais são os sintomas?
Após a picada do mosquito, os sintomas se manifestam a partir do terceiro dia. Existem duas formas de dengue: a clássica e a hemorrágica.

- Clássica: apresenta-se geralmente com febre alta, forte dor de cabeça, no corpo, nas articulações e por trás dos olhos, manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, náuseas e vômitos, tonturas, extremo cansaço. Raramente mata.

- Hemorrágica: forma mais severa, pois é possível ocorrer sangramento e pode levar à morte. O paciente tem dores abdominais fortes e contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sangramento pelo nariz boca e gengivas, manchas vermelhas na pele, sonolência, agitação e confusão mental, sede excessiva e boca seca, dificuldade respiratória, perda de consciência.

Como posso evitar a picada do mosquito da dengue?
Da mesma forma que você se previne de outros mosquitos, usando:
Espirais ou vaporizadores elétricos: devem se colocados ao amanhecer ou antes do pôr do sol, horários em que o mosquito da dengue mais pica

Mosquiteiros: devem ser usados principalmente em casas com crianças, cobrindo as camas e outras áreas de repouso, tanto durante dia quanto à noite.

Repelentes: podem ser aplicados no corpo, mas devem se adotadas precauções em crianças e idosos por causa da maior sensibilidade da pele

Telas: usadas em portas e janelas, são eficazes contra a entrada de mosquitos nas casas.

A dengue é transmitida de pessoa para pessoa?
Não. O mosquito Aedes aegypti é o vetor. Após um período de 10 a 14 dias, contados depois de picar alguém contaminado, pode transportar o vírus da dengue durante toda a sua vida.

A dengue é transmissível por copos, roupas e objetos?
Não, apenas pela picada do mosquito contaminado.

Qualquer pessoa picada pelo mosquito ficará doente?
Não. Isso só ocorre se o Aedes aegypti estiver contaminado pelo vírus.

Entrevista
José Gomes Temporão, ministro da Saúde

“É impossível imaginar um país sem dengue”

Frente a epidemias de dengue espalhadas pelo país, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem, em Porto Alegre, que ainda é difícil prever como se comportará a doença nos próximos meses. Em sua passagem pela Capital, para conhecer o canteiro de obras do hospital da Restinga e para lançar o Instituto do Cérebro, o ministro conclamou a população a se mobilizar contra a dengue, que deve preocupar até a chegada de uma vacina, em cerca de cinco anos.
À tarde, o ministro foi recebido pelo Comitê Editorial da RBS, na sede do grupo e concedeu a seguinte entrevista.

Zero Hora – A dengue está se alastrando pelo Estado, a cada dia mais cidades registram casos da doença. Como está o apoio do governo federal ao RS?

José Gomes Temporão – Esse planejamento contra a dengue vem desde do ano passado, quando aprovamos um protocolo nacional de diretrizes que hoje orienta todo o trabalho de Estados e municípios. Também enviamos para a casa de 300 mil médicos e 300 mil enfermeiros um curso de atualização da doença. Liberamos ainda R$ 1 bilhão, fornecemos larvicida, inseticida, comunicação, mobilização. Na verdade, o que estamos vendo é a dinâmica da doença na pratica. Em muitos Estados brasileiros fez muito calor, choveu muito acima do esperado. E o que esperar desta situação: o tempo de evolução do mosquito foi encurtado de 15 para sete dias. Então, existem fatores climáticos envolvidos, ambientais, educacionais e ambientais. Não dá para inventar nada de novo. Temos que reiterar e fortalecer o que vem sendo feito. Os prefeitos têm de ter clareza de que é importante a limpeza da cidade, a informação tem que chegar à garotada na escola.

ZH – Qual a situação da dengue no Brasil?
Temporão – A situação e mais preocupante em cinco Estados: Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, onde tivemos um crescimento grande no número de casos. A situação não está fora de controle, pois o problema se concentra em um número pequeno de municípios. Estamos acompanhando diariamente. Ainda é muito cedo para avaliar o que vai acontecer. A condição climática do verão não ajudou no combate ao mosquito. Por outro lado, a boa noticia é que os casos graves e óbitos se reduziram em relação ao ano passado. Isso significa que Estados e municípios estão conseguindo realizar melhor o atendimento à população.

ZH – Como está o Rio Grande do Sul nesse cenário?
Temporão – Nós estamos acompanhando a situação do Rio Grande do Sul. O secretário Terra (Osmar Terra, da Saúde) e a minha equipe estão em contato o tempo todo. A população tem que se mobilizar. Não tem mágica. Sem mosquito, essa doença não acontece. É impossível imaginar o país sem dengue nos próximos anos. Vamos ter de conviver com essa doença até termos uma vacina.

ZH – E quando teremos a população imunizada?
Temporão – O Brasil está se esforçando para buscar uma vacina. Por que é tão difícil ter uma vacina contra a dengue? Porque o vírus da doença tem quatro subtipos. Então, a vacina tem que proteger contra os quatro. É muito mais complexo produzir uma vacina que proteja contra todos em vez de um tipo só. Então, a Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com um laboratório britânico, está erguendo um laboratório para desenvolver uma vacina brasileira contra a dengue. Na melhor das hipóteses teremos essa vacina em cinco anos.

ZH – A vacina é o único caminho para controlar a doença?
Temporão – É o único caminho. Esse mosquito foi erradicado no início dos anos 50 no Brasil, mas depois ele foi reintroduzido. O que vimos nos últimos 30 anos é que ele se espalhou pelo território nacional, está presente em praticamente todos os municípios. Então, a estratégia de erradicação do vetor é quase impossível. A estratégia mais pragmática, mais correta e mais adequada é desenvolver uma vacina.

Maicon Bock

Zero Hora – 03/03/10 – Geral – Páginas 34-35



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